23 de mai. de 2010

Capítulo 3

O novo curso em que me matriculei se mostrava muito mais interessante no sentido de aprendizado do que o anterior. Era mais completo. E o melhor, passei a começar a gostar muito de costuras e moldes. Passei a observar todas as roupas que vejo em lojas, fotos, nas pessoas. Comecei a ter certa noção do que fazer pra se chegar aquele resultado. Mas também me deparei com o erro, o desfazer, a frustração que sentia quando algo não dava certo. E isso era a todo o momento. A tristeza realmente pesa e deprime, mas esquecemos dela; a felicidade, a realização, é rápida e sensacionalmente inesquecível. Muitas vezes me sinto retornando uma ladeira. Me explicarei melhor: Meu pai quando vivo teve uma doença degenerativa e eu me tornei sua curadora, a responsável por ele, um tipo de uma mãe. E muitas vezes tivemos problemas que culminaram em brigas por divergências de opiniões. E eu descia a ladeira de sua casa maldizendo ele e o mundo, e tomando resoluções de abandoná-lo por uns dias pra ele ver só, pra ele isso, pra ele aquilo... Mas a descida terminava, e com ela a minha revolta dava uma reviravolta. Eu era responsável por aquele adulto, eu decidi cuidar daquele adulto, eu amava aquele adulto, e por isso eu zelaria por ele. E no final da descida da ladeira, depois de rosnadas internas, eu tomava o rumo de volta com cara de vencida e cansada decidida a pedir desculpas estando certa ou não. Desculpas nem sempre aceitas. Colocava minha viola no saco, abandonava resquícios de infantilidade e cultivava meu amadurecimento. E isso era o que acontecia quando algo dava errado na costura. Eu tinha vontade de jogar tudo pro alto e abandonar o curso com uma saída triunfal. Mas ali mesmo, diante da máquina eu subia a ladeira de volta com expressão de derrotada e me superava. Quase praguejando, mas amordaçada. Porque no fundo eu não desejava abandonar o barco.

Uma nova possibilidade começava a surgir em forma de idéia e com ela questionamentos de uma vida inteira. Como vinha gostando de meu novo hoby, gostaria de dar continuidade a ele. E com muitas pesquisas achei um curso superior muito conceituado que me pareceu bastante interessante. Mas a nova idéia ainda está em seus primórdios de milhões de questionamentos a cerca de. O curso é a noite num lugar perigoso X o preço está de acordo com minhas possibilidades. Tem aula sábado de manhã X sairei uma profissional competente. Não poderei ir às leituras que freqüento quinta feira tão importantes para a minha paz interior. Pra fazer a Ioga que é tão cedo terei de me policiar em estar descansada. Namorados estarão em um segundo plano se eu não quiser me cansar demais. E o mais importante de tudo: a velha questão... é isso o que desejo pro meu futuro? Quero ser modelista? Ou este é só mais um dos meus estudos em que aprendo muito e não dou sentido prático? Quero continuar a ser adolescente? Dúvidas cruéis. E pensar que é só decidir quem se quer ser. Simples assim.

Penso que por ter sido feita com o planeta Netuno na casa dez, tudo se torna mais difícil. Entenderão: Planeta Netuno - algo que coloca uma névoa, uma neblina, fog, smog que seja, e não nos deixa enxergar. Casa dez – área da mandala astrológica relativa à profissão, casamento, à imagem que vendemos pro mundo. Junta esses dois pra ver se não se sentirá num castelo mal assombrado. Ou pelo menos apenas mal iluminado. Mas estudiosa dos Astros que sou tenho a resposta. Seguir a intuição, o sentir. Pronto! O que já era difícil se torna impossível pra uma pessoa com Lua em Touro, ou seja, que precisa tocar, ver, cheirar e usar todos os órgão dos sentidos pra acreditar. É o ver pra crer. Vai vendo...

Como me jogar do quarto andar não está entre os meus planos vamos tentando.

Podemos tentar também em se sendo a pessoa mais introspectiva do mundo, uma ostra, se relacionar com a mais apoteótica de todas. As coisas que a vida reserva pra nós. Deve ser pra rir. E não estou me vitimando achando que a vida colocou alguém em minha frente pra Deus sentar com os apóstolos na frente da TV digital divina e ficarem observando e rindo como aqueles dois ali se sairão. Sei que eu decidi estar ali, porque era só não me abrir a isso. Também acredito que se apareceu alguém em minha vida e eu decidi deixar entrar é porque algo precisa ser aprendido, existe um porque, há uma sincronicidade. Ou simplesmente quero estar com alguém. Já passei da fase em que “o acaso vai nos proteger enquanto eu andar distraído”. Pra todo efeito vivido tem uma causa causada. Sem querer ainda entrar em detalhes, voltei a me relacionar depois de um período de recuperação. Decidi me drogar novamente e estou em plena recaída, na ativa mesmo. E a vida é tão mais fácil sem ninguém. E tão morta. Cara a tapa novamente. Mas sem deixar os bons dias e boas noites por torpedos de lado. Minha idéia de relacionamento perfeito ainda está intacta embora eu saiba que ela caiba direitinho na vida fácil e morta que falei acima. Viver é um processo. Sigamos processando.
Deletada a idéia de curso superior em modelagem. Sim, no espaço temporal de um parágrafo. E com todas as justificativas prontas. Ou só uma muito poderosa. Como pedi um apartamento de minha propriedade que estava alugado com o intuito de  fazer obras e em seguida morar, não será esta a hora de fazer esse curso. Penso até, aquarianamente falando, que não será em hora nenhuma, mas como "nunca" ainda demora bastante, noutro momento repenso, ou penso agora em repensar outra hora só pra organizar futuros. Como ainda estou a cursar o curso de costura, a crise ficará para a próxima semana. Não há necessidade de antecipar. Vivamos o agora pois só o presente existe. E assim me convenço do que acabei de escrever. Pelo menos pelo tempo que digito. E isso já é muita coisa.
O próximo momento do agora que preciso viver é ligar pra administradora do apartamento saber a quantas anda a saída dos que não querem sair. Mas estou atrasando esse agora. Coisa que refletirei no próximo agora que não é exatamente agora.

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